quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Filosofia e Teologia


Creio, que podemos aplicar o pensamento de Pitágoras à teologia.

Dizia Pitágoras que três tipos de pessoas compareciam aos jogos olímpicos (a
festa mais importante da Grécia): as que iam para comerciar durante os jogos, ali
estando apenas para servir aos seus próprios interesses e sem preocupação com as
disputas e os torneios; as que iam para competir, isto é, os atletas e artistas (pois,
durante os jogos também havia competições artísticas: dança, poesia, música, teatro); e as que iam para contemplar os jogos e torneios, para avaliar o desempenho e julgar o valor dos que ali se apresentavam. Esse terceiro tipo de pessoa, dizia Pitágoras, é como o filósofo.

Com isso, Pitágoras queria dizer que o filósofo não é movido por interesses comerciais - não coloca o saber como propriedade sua, como uma coisa para ser comprada e vendida no mercado; também não é movido pelo desejo de competir- não faz das idéias e dos conhecimentos uma habilidade para vencer competidores ou “atletas intelectuais”; mas é movido pelo desejo de observar, contemplar, julgar e avaliar as coisas, as ações, a vida: em resumo, pelo desejo de saber. A verdade não pertence a ninguém, ela é o que buscamos e que está diante de nós para ser contemplada e vista, se tivermos olhos (do espírito) para vê -la.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009


"Temos de aprender a viver todos como irmãos ou morreremos todos como loucos."

Luther King Jr.

"Só podemos vencer o adversário com o amor, nunca com o ódio."

 Gandhi

Não é no silêncio que os homens se fazem, mas na palavra, no trabalho, na ação-reflexão

Paulo Freire

O que deve caracterizar a juventude é a modéstia, o pudor, o amor, a moderação, a dedicação, a diligência, a justiça, a educação. São estas as virtudes que devem formar o seu carácter.




Socrates

.: Existem coisas na vida muito mais sérias do que a felicidade. Quando você é uma pessoa que fica buscando a felicidade o tempo todo, seguramente você vai parecer uma pessoa banal. Você vai parecer uma pessoa risível. Se você ficar procurando a felicidade o tempo todo, você tem grande chance de logo começar a consumir soluções de R$ 1,99.


Luis Felipe Pondé. Filosofo

"Vamos rir, chorar e aprender. Aprender especialmente como casar Céu e Terra, vale dizer, como combinar o cotidiano com o surpreendente, a imanência opaca dos dias com a transcendência radiosa do espírito, a vida na plena liberdade com a morte simbolizada como um unir-se com os ancestrais, a felicidade discreta nesse mundo com a grande promessa na eternidade. E, ao final, teremos descoberto mil razões para viver mais e melhor, todos juntos, como uma grande família, na mesma Aldeia Comum, generosa e bela, o planeta Terra."

Leonardo Boff

quinta-feira, 1 de outubro de 2009


PRECISAMOS RE-VER A PESSOA DE DEUS COMO UM PARCEIRO, QUE NA LONGA JORNADA DA VIDA, QUER NOS AJUDAR A DESCOBRIRMOS OS RUMOS PARA DELINEARMOS UMA NOVA HISTÓRIA.
COMO UM AMIGO FIEL, ELE QUER NOS AJUDAR A DESVENDAR OS MISTÉRIOS ESCONDIDOS NO FUNDO DE NOSSO CORAÇÃO. COMO UM PARCEIRO CERTO E COMPANHEIRO DE LUTAS, ELE PODE NOS INSPIRAR ATRAVÉS DO EXEMPLO DE HUMANIDADE E DE SENSO ÉTICO DE SEU FILHO JESUS, A FIM DE QUE SEJAMOS HOMENS E MULHERES DE UMA VIDA AUTÊNTICA, BONITA E PLENAMENTE REALIZADA.

Dessa forma, a nossa religião não será talvez um ópio alienante para as consciências das pessoas, mas a possibilidade de uma experiência cada vez mais transformante e humanizadora para todos nós.

Por isso, creio que hoje precisamos mais do que nunca, na Igreja cristã deste novo milênio, resgatar o cerne do Cristianismo verdadeiro:

A MENSAGEM DE QUE DEUS NOS AMA E NOS QUER BEM, SEM ESPERAR NADA EM TROCA. APESAR DE TODA APARÊNCIA DE PERVERSIDADE QUE HÁ NO MUNDO E NO CORAÇÃO HUMANO, PRECISAMOS VOLTAR A AFIRMAR QUE DEUS AINDA ACREDITA EM NÓS, E VEM APOSTANDO TUDO PARA QUE DE FATO SEJAMOS PARTE DE SUA FAMÍLIA, A FIM DE QUE CONSTRUAMOS UMA VIDA MAIS BONITA E PLENA DE SENTIDO

O ser humano, imagem de Deus

Deus criou o ser humano à sua imagem,


à imagem de Deus ele o criou, homem e mulher ele os criou.8

O ser humano não é Deus, mas também não é puramente

mundano. Deus o eleva acima de todas ao outras criaturas e lhe confere

o sopro de vida divino. Deus põe em seu coração um desejo do divino.

Assim o ser humano está sempre referido a Deus. O Criador estabelece a

criatura humana como partner ou lugar-tenente seu para guardar e

cultivar aquilo que é de Deus desde a criação (os peixes, as aves e as

plantas; isto é, o mundo todo em seus três níveis: as águas, os céus e a

terra). O ser humano é estabelecido socium de Deus para dar

cumprimento ao plano divino, e por isto é ele imagem, “pouco menos

que um deus, coroado de glória e beleza” (Sl 8,6). Não se pode

“derramar seu sangue”: ele é imagem de Deus (Gn 9,6).Ser referido a

Deus significa ter um ponto de apoio que ninguém tem o direito/poder de

tirar-lhe – mesmo que o ser humano esteja sob o domínio do pecado. A

referência ou dependência de Deus não aliena o ser humano, pois Deus

o plasmou dotado de liberdade, inclusive de voltar-se contra o Criador

O ser humano criado à imagem de Deus encontra sua razão de ser na


referência ao próprio Deus e seu futuro está somente em Deus. Mas, é preciso

afirmar alto e bom som: o ser humano foi criado porque Deus o ama e quer fazer

dele seu parceiro na criação. Ela é a revelação desta bondade amorosa e da

liberdade infinita de Deus. Nela, o ser humano é a obra principal deste amor.

terça-feira, 29 de setembro de 2009


"O homem não procura mais o autor do mal, o autor é tu mesmo!"
Rousseau

Ateismo e suas contradições



O grande desafio do cristianismo é sempre o mesmo: ser vivido na prática.

Jesus não era um professor a


ensinar uma teoria, ou um pensador a esboçar um

sistema, aberto ou fechado. Veio para trazer a vida, e

vida em abundância. Mais do que uma doutrina, no

sentido teórico, o que fez foi pregar, com as palavras e o

exemplo, uma mensagem de vida, deixando-nos uma

mensagem existencial. Não consta que ele tenha feito

uma verificação escrita sobre os ensinamentos do sermão

da montanha, ou que mandasse os discípulos analisarem

criticamente as parábolas. O Evangelho fala outra

linguagem: “Vai e faze o mesmo!” O que mais interessa é

portanto a dimensão pragmática. Ou, conforme aquela

outra tese: não basta interpretar, é preciso transformar

o mundo em que vivemos. Rumo à comunidade dos

santos, dos filhos de Deus (sem esquecer que a Igreja

triunfante não pertence a esta terra, onde se esforça a

Igreja militante).

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Caracteristicas da época, a qual vivemos.


A época em que vivemos é caracterizada, como a era das incertezas, das fragmentações, das desconstruções, da busca de valores, do vazio, do niilismo, do imediatismo, do hedonismo, da substituição da ética pela estética, do narcisismo e do consumo de sensações. Nesse contexto, os indivíduos tendem a sentir-se confusos diante da velocidade com que o seu mundo se modifica, tornando nebulosa sua própria inserção nesse mundo.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

O Senhor é meu Pastor


Transparente e comovedor, O Senhor é meu Pastor nos mostra que o medo é o reflexo da condição humana, feita de esperanças, desamparo e busca por conforto. Nós nos desesperamos achando que estamos abandonados, até que a força da fé transforma nossos sentimentos.


no salmo 23. Deus se anuncia como um bom pastor para nos conduzir a pastagens verdejantes e a fontes de águas cristalinas, permitindo reparar nossas forças. Dando-nos segurança e consolo, atravessando conosco as passagens mais sombrias, Ele coloca Sua mão sobre nosso ombro e diz: "Não temas mal nenhum. Eu estou contigo."


O salmo assegura: Deus toma partido. Ele está de um lado da contradição, do lado de quem teme e é perseguido. Por isso podemos serenar e ficar confiantes."

A força da ternura


"O Universo é constituído por uma imensa teia de relações de tal forma que cada um vive pelo outro, para o outro e com o outro; o ser humano é um nó de relações voltado para todas as direções; e a própria Divindade se revela como uma Realidade de plena comunhão e amor."




Leonardo Boff

O Teólogo Hoje.


A reflexão teológica deve ser firme em sua orientação última, decidida em suas opções fundamentais e, ao mesmo tempo, humilde no dia-a-dia, cuidadosamente atenta em seu avanço e aberta aos novos desafios e possibilidades, para dar respostas pertinentes a todos aqueles que crêem.  

A sua Dor, dói em Deus.


"O Eterno leva tão sério os homens, a ponto de sofrer com suas lutas,e, no seu amor, afligir-se com seus pecados."

Ao se tornar humano, o Verbo se coloca em uma situação de fragilidade e vulnerabilidade, agravadas pelo amor. Todos aqueles que amam se tornam vulneraveis, podem ser feridos e se decepcionar. Deus, sendo Deus "Deus em nós", tambem sofre por levar tão a serio. Sofre com nossas ações e pode ser ferido por elas, criando, porém, comunhão conosco, ajudando-nos a tornarmo-nos libertos dos circulos infernais da pobreza, da violencia, da alienação racial, cultural, da destruição da natureza, da perda do significado da vida ou da perda de sentido e da ausencia de Deus. 

segunda-feira, 21 de setembro de 2009


     Num mundo asfixiado pelo estresse, o consumismo, as novas escravidões (morais e físicas), o desespero e, em que a falta de esperança se tornou um fenômeno social, é preciso, para continuar vivendo, mais que nunca redescobrir as razões da esperança.

No entanto, apesar de tudo isso, a esperança se impõe. E a mensagem de esperança ilumina este horizonte de hoje cheio de incerteza e pessimismo. A esperança nos sustenta e protege no bom combate pela vida e pelo amor. Alimenta-se na solidariedade e na relação com os outros, lembrando-nos que não podemos esperar sozinhos, mas apenas em comunhão. Já dizia o grande educador Paulo Freire: “Ninguém liberta ninguém. Ninguém se liberta sozinho. Os homens se libertam em comunhão.”

   A mensagem e a virtude da esperança iluminam este horizonte denso de incertezas e de pessimismo. A esperança, de fato, tem essencialmente também uma dimensão comunitária e social, de tal forma que aquilo que o Apóstolo diz em sentido próprio e direto em relação à Igreja, pode ser em sentido lato aplicado à vocação de toda a humanidade: «Há um só corpo e um só Espírito, como existe uma só esperança no chamamento que recebestes» (Ef 4, 4).                                                                         

Jesus a porta para a vida.


 João diz que Jesus é aquele que nos revela, que torna o homem visível e experimentável neste mundo.

Tom Honey. Como pôde Deus permitir o tsunami. Redefinindo a imagem de Deus.

http://www.ted.com/talks/tom_honey_on_god_and_the_tsunami.html

domingo, 20 de setembro de 2009

Deus fez-se Palavra-Verbo,Logos

"O admiravél não esta tanto no silêncio de Deus quanto na própria possibilidade de sua palavra. E a pergunta não é: por que Deus torna as coisas tão dificil?, mas sim: Como é possivel um amor tão grande que até é capaz de realizar o impensavél misterio desta comunicação? Deus fez-se palavra-verbo, logos- para traduzir em nossa carne, para tornar acessível o inacessivel. Deus fez tudo quanto estava em suas maõs para aproximar-se de nós; que de nenhum modo quer, mas que, pelo contrario, doi nele a dificuldade estrutural que as vezes torna nosso contato tão dificil. O temos ao nosso lado, como aquele que nos apoia, nos compreende e nos anima".

sexta-feira, 18 de setembro de 2009


Jesus não veio para ensinar um culto, uma religião, mas para infundir uma esperança, enviando o Espírito que é a força desta esperança.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

O Sentido da vida


Por sentido de vida entende-se o ato de imprimir à existência um rumo que a valorize, que faça a todos felizes e transmita essa alegria aos demais. Esse sentido constrói os fundamentos de uma vida feliz e produtiva. Uma vida com sentido é algo que se elabora com o tempo, com esforço e dedicação. É preciso saber organizá-la para tirar dela o melhor que ela tem a oferecer. A busca de um sentido para nossa vida é árdua e laboriosa, mas possível.

Cristianismo e Direito


Cristianismo e direito situam-se em dois níveis diferentes. Não têm o mesmo objeto. O Cristianismo é um messianismo: é um projeto que é, ao mesmo tempo, uma promessa, o anúncio do Reino de Deus. O Reino de Deus é um mundo transformado, porque este mundo não é de Deus: não é o mundo que Deus tinha criado. O messianismo é o anúncio de uma humanidade renovada, em que reine a justiça e a paz, em que todos se tratem como irmãos. Para muitos é uma ilusão, um sonho, uma coisa irrealizável nesta terra dada a humanidade que existe e que nunca se prestará a isso. Jesus anunciou esse Reino, mas não definiu datas, não definiu as etapas, não definiu a estratégia. No entanto, desde há dois mil anos milhões de discípulos acreditaram e viveram para que esse anúncio se tornasse realidade. Não completaram a sua tarefa, mas não viveram em vão, porque houve algumas transformações, alguns setores da humanidade melhoraram e se aproximaram mais das promessas feitas a Abraão. Jesus não prometeu que esse Reino de Deus chegaria à sua plenitude nesta terra, mas quis que os seus discípulos trabalhassem nesse sentido.
José Comblin

sábado, 18 de julho de 2009

Deus onde estas?


Deus está na criação cultivada pelos homem e mulheres de boa vontade.Deus está no entusiasmo daqueles que acreditam que a "guerra" e a "violência" não são as últimas palavras da existência.Deus está no sangue dos que lutam pela justiça, dos que combatem todo sistema que oprime o ser humano e a natureza.Deus está na esperança que move o coração, que o impulsiona na luta para que o Reino por Cristo anunciado se torne concreto em nosso meio.Deus está nos pequenos e grandes gestos de solidariedade e de compaixão.Deus está nos pobres, nos que são marginalizados por sua raça, cor ou condição moral.

sábado, 11 de julho de 2009



O Pe. José comblin afirma, a missão do profeta como aquela
que foi tambem a missão de Jesus de Nazaré: ir ao mundo dos pobres para despertar a
esperança, e já começar a irrupçao do Reino de Deus. O profeta anuncia a chegada da
força de Deus, que vem revestir a fraqueza dos fracos deste mundo. A palavra e o
testemunho do profeta podem converter pessoas desesperadas, principalmente entre os
jovens. O profeta pode derpertar a conciência de pessoas que pertencem ao mundo
privilegiado. Pode derpertar vocaçoes verdadeiras para servir, exercer de verdade a
Eucaristia como lava-pés. O profeta é como um arauto das conversões. A mistica da
profecia é a perseguicão, desde sempre o profeta foi perseguido, pois os profetas
enchegam mais longe, eles não tem medo de ver e de falar. A perseguição é sinal de
autenticidade da profecia. Neste sentido o autor resgada a Espiritualidade cristão como
mística da profecía amorosa do Deus encarnado, que nos amou até as ultimas
consequencias. A misteca do profeta é a gratuidade e o “kenoses”, o Espírito é a força
propulsora da profecía. “não deixe morrer a profecia”, esta e uma das ultimas palavras
de Dom Helder, na afirmação do autor. O autor afirma que os profetas estão no meio de
nós. Os profetas sempre aparecem como pessas livres, pois são homens e mulheres
que vivem e se deixam impulsionar pela Espirito de Jesus de Nazaré.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

" Ama-me por Amor somente "


Ama-me por amor somente. Não digas: "Amo-a pelo seu olhar,o seu sorriso, o modo de falar honesto e brando. Amo-a porque se sente minh'alma em comunhão constantemente com a sua". Porque pode mudar isso tudo, em si mesmo, ao perpassar do tempo, ou para ti unicamente. Nem me ames pelo pranto que a bondade de tuas mãos enxuga, pois se em mim secar, por teu conforto, esta vontade de chorar, teu amor pode ter fim! Ama-me por amor do amor, e assim me hás de querer por toda a eternidade.

O sofrimento que cura


Minha própria percepção é de que se Deus não é pessoal e, por isso, aberto para chorar comigo em minhas tristezas, tampouco será capaz de rir ao meu lado em minhas alegrias ou se regozijar na minha prosperidade. Em Jesus, assim como na experiência de Jó e de tantos outros, não consigo ver um Deus intocável e insensível de tão poderoso que possa ser, mas, por ser tão poderoso, enxergo um Deus que se “rebaixa” se for preciso pra ter compaixão e misericórdia da minha miséria e que caminha comigo, uma ou dez de milhas, tanto no contexto das minhas dores como de meus maiores prazeres, em meio a alegrias que se conjugam com tristezas. Esse é o sentido da espiritualidade para Nouwen. Não se resume na simples idéia de realizar performances e sacrifícios para Deus, mas em convidá-Lo a entrar em nossas vidas de modo que Ele possa chorar com a nossa aflição ao mesmo tempo em que sofremos com as dores de Seu Filho e, conseqüentemente, compartilhemos do sofrimento do amor de Deus por um mundo ferido e proclamemos libertação. Conforme diz Nouwen, “assim como Jesus, quem proclama a libertação é convidado não só a cuidar dos próprios ferimentos e dos ferimentos do outro, mas também a fazer de seus ferimentos uma fonte maior do poder que cura” (2001, p. 119). Para Nouwen, um ministro ferido pode e deve ser também um ministro que cura. Mas, para sermos “servos da cura”, antes é preciso identificar, entender e aceitar nossa própria dor.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Jesus quer Salvar os Cristãos

Jesus quer salvar nossa igreja de achar que sacerdotes são os outros.
Jesus quer nos salvar de ficar-mos olhando de longe.
Jesus quer salvar nossa igreja do medo.
Jesus quer nos salvar de significarmos boas-novas para outro mundo que não este.
Jesus quer nos salvar de pregarmos um evangelho que só trata de individuos, mas não dos sistemas que os escravizam.
Jesus quer nos salvar de reduzirmos o evangelho a uma transação relacionada à remoção do pecado, mas não à reconciliação de cada partícula individual da sua criação com seu criador.
Jesus quer nos salvar do desespero sancionado pela religião, do tipo que não crê na possibilidade de o mundo ser melhorado; do tipo queostensiva ou sutilmente ensina as pessoas a ficarem quietas e comportadas, esperando algo grandioso acontecer "um dia".
Citação do livro, "Jesus quer salvar os cristãos". Pr. Rob Bell e Don Golden

quarta-feira, 3 de junho de 2009

A bíblia eo jornal


O pastor e professor de teologia Karl Barth dizia que o cristão deve carregar em uma das mãos a Bíblia e, na outra, o jornal. Isto significa, por um lado, que sem a Bíblia nada temos para pregar. Por outro lado, sem a “leitura do jornal”, a nossa pregação pode parecer endereçada a anjos e não a pessoas de carne e osso. Dito de outra maneira, a Boa Notícia da salvação quer atingir as pessoas na sua realidade de vida, dando alento e provocando transformação. Testemunho de fé que desconsidera a vida das pessoas e da sociedade produz fanatismo e isolamento. Testemunho que abre mão da Palavra de Deus não é testemunho cristão e leva à secularização. Somos, por isso, convidados a compreender o contexto ao qual o Evangelho é dirigido

sábado, 30 de maio de 2009

A salvação na solidão


“ Em última análise, o que procuro na solidão não é felicidade nem realização, e sim salvação. Não a ‘minha própria salvação’, mas a salvação de todos. É aqui que a coisa fica séria. Já usei a palavra revolta ligada à solidão. Revolta contra o quê? Contra uma noção de salvação que é totalmente legalista e extrínseca e que pode ser conseguida por mais falsa, atrofiada e estéril que realmente seja a sua vida interior. Esta é a pior ambigüidade: a impressão de que se pode ser francamente desleal para com a vida, a experiência, o amor, as outras pessoas, o seu próprio eu mais profundo, e ainda assim ser ‘salvo’ por um ato de obstinado conformismo, pela vontade de ser correto. Afinal, isto me parece fatalmente semelhante ao ato pelo qual as pessoas se perdem: a determinação de estar ‘certo’ a qualquer preço, à força de endurecer o próprio centro em torno da escolha arbitrária de uma posição fixa. Fechar-se em seu erro central com a recusa de admitir que se possa estar errado... Estou aqui [na solidão e no eremitério] por uma razão: para estar aberto, não ‘fechado em’ alguma escolha, seja ela qual for, excluindo todas as outras: estar aberto à vontade de Deus e à liberdade do Seu amor, que vem me salvar de tudo aquilo que em mim Lhe resiste e diz não. Isto eu preciso fazer não para me justificar, não para estar certo, não para ser bom, mas porque todo o mundo de pessoas perdidas precisam desta abertura pela qual a salvação pode entrar através de mim.”

A 'chesed' de Deus



“ A chesed* de Deus é uma misericórdia gratuita que não considera mérito, dignidade nem retribuição. É a maneira como o Senhor olha para os culpados e, com Seu olhar, torna-os imediatamente inocentes. Aos que fogem dele, esse olhar parece ira. Quando o contemplam, contudo, vêem que é amor e que eles são inocentes. (Sua fuga e confusão causadas por seu próprio medo os tornam culpados a seus próprios olhos). A chesed de Deus é verdade. É força infalível. É o amor por meio do qual procura e escolhe Seus eleitos e os une a Si. É o amor pelo qual Ele está desposado com a humanidade. Assim, se a humanidade Lhe for infiel, terá ela sempre uma fidelidade à qual voltar: Sua própria fidelidade. Ele se tornou inseparável do homem na chesed que denominamos ‘Encarnação’, ‘Cruz’ e ‘Ressurreição’. Ele também nos deu Sua chesed na Pessoa de seu Espírito. O Paráclito é a plenitude do mistério inefável de chesed. Assim sendo, nas profundezas de nosso ser existe uma fonte inexaurível de misericórdia e de amor. Nosso próprio ser se tornou amor. Nosso próprio ser se tornou o amor de Deus por nós e está cheio de Cristo, de chesed. Mas temos de nos aceitar e aceitar aos outros como chesed.”
* Palavra em hebreu que significa bondade; bondade que vai além do que normalmente seria esperado.

Quer conhecer a Deus?



“ Quer conhecer a Deus? Aprenda a compreender as fraquezas e imperfeições dos [irmãos]. Mas como você pode compreender a fraqueza alheia se não entender a sua própria? Como pode ver o sentido de suas próprias limitações se não tiver recebido de Deus a misericórdia, que lhe dá o conhecimento de si mesmo e Dele? Não basta perdoar os outros: é preciso perdoar com humildade e compaixão. Perdoar sem humildade é um escárnio: supõe que somos melhores do que os outros.

terça-feira, 28 de abril de 2009

Deus dos pecadores





Padre Jacques Dupont, em um notável artigo de 1987, publicado na «Nouvelle Revue Théologique», mostrou que «a imagem que Jesus dá de Deus» é «“outra”, diferente daquela do judaísmo contemporâneo», expressando «um Deus que se interessa muito menos pelos justos do que pelos pecadores e outros marginalizados da sociedade religiosa»; em resumo, um «Deus dos pecadores».Um pouco mais adiante, ele escreve: «O Deus de Jesus é um Deus que não se deixa cooptar por uma casta ou por um grupo fechado em si mesmo. A sua maneira de ser o Deus de todos, antes de tudo o fazo Deus dos excluídos e daqueles para os quais aboa sociedade religiosa só tem desprezo».

A conversão querida por Jesus








a conversão querida por jesus
A conversão que Jesus queria era uma autêntica mudançado coração e das relações e não a simples adesão a uma organização ou a um cumprimento ritual. Jesus convidou as pessoas e a sociedade a converterem-se radicalmente a os valores de Deus que ele propunha, isto é:
Da morte à vida, morrendo para si mesmos;do erro à verdade, para o conhecimento;da ignorância à consciência de si, dos outros e de Deus;do egoísmo ao altruísmo;da injustiça à justiça;do ódio ao amor, inclusive o amor aos inimigos;do preconceito à paz, shalom, perdão;da cobiça à partilha;do interesse ao serviço;do orgulho à humildade e ao serviço;dos privilégios à igualdade, reconhecimento de todos;do abuso de poder ao poder como serviço;do patriarcado à reciprocidade, tornar-se parceiro;da hierarquia à comunidade, reciprocidade;da dominação à participação;do isolamento à cooperação e comunhão;da indiferença ao dar atenção, preocupar-se;da apatia à empatia, comprometer-se;da não-liberdade à liberdade;da hipocrisia à sinceridade;da desonestidade à honestidade;da duplicidade à autenticidade.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

À Falta de verdadeiros Profetas

O clamor dos profetas é o clamor dos pobres, dos pequenos e dos excluídos pelos sistemas político, econômico e social.Os profetas são homens e mulheres de Deus, inspirados na justiça e na solidariedade.Eles lutam nas causas de terceiros, mais do eu em causas próprias. São amados, queridos e aclamados por uma parte do povo, mas odiados, combatidos e, não raro, eliminados pelos maquinadores da verdade e pelos que entortam o direito e a justiça.
Os profetas fazem de sua voz a voz do povo, de sua palavra, a defesa dos injustiçados, de sua inteligência, a força dos fracos na busca do bem comum, da verdade e do restabelecimento da justiça.
Esta obra, trabalhando apenas alguns tons desse clamor, coloca diante de você uma inquietude que tomou conta desses homens e mulheres antigos e continua sendo, hoje, de homens e mulheres de Deus, diante dos urgentes apelos do mundo e de grande parte da humanidade, na construção de uma sociedade justa, fraterna e solidária.

terça-feira, 7 de abril de 2009

G.K. Chesterton

"O amor perdoa o imperdoavel, senão deixa de ser virtude. A esperança não desiste, mesmo em face do desespero, senão deixa de ser virtude. E a fé acredita no inacreditavel, senão deixa de ser virtude".

Soli deo gloria

quarta-feira, 1 de abril de 2009

O Evangelho da Cruz

evangelho da cruz” “Pregar hoje a cruz de Jesus Cristo significa:1) Empenhar-se para que haja um mundo onde seja menos difícil amor, paz, fraternidade, abertura e entrega[a Deus]. Isso implica denunciar situações que geram ódio, divisão [o ateísmo] em termos de estruturas,valores, práticas e ideologias. Isso implica anunciar e realizar, numa práxis comprometida, amor,solidariedade, justiça na família, nas escolas, no sistema econômico, nas relações políticas. Esseengajamento leva como conseqüência a crises, confrontos, sofrimentos, cruzes. Aceitar a cruz que vemdeste embate é carregar a cruz como o Senhor a carregou no sentido de suportar e sofrer por razão dacausa e da vida que levamos.2) O sofrimento que se sofre nesse empenho, a cruz que se tem de carregar nesta caminhada é sofrimento emartírio [para Deus e sua causa no mundo] O mártir é mártir por causa [de Deus]. Não é mártir por causado sistema. É mártir do sistema, mas para [Deus]. Por isso o sofredor e o crucificado por causa da justiçadeste mundo é testemunha de [Deus]. Rompe o sistema fechado que se considera justo, fraterno e bom. Osofredor é mártir pela justiça, como Jesus e como todos os que o seguem, des-cobrem o futuro, deixamaberta a história para ela crescer e produzir mais justiça do que aquela que existe, mais amor do queaquele que vigora na sociedade. O sistema quer fechar e encobrir o futuro. É fatalista; julga que nãonecessita de reforma e modificação. O que suporta a cruz e sofre na luta contra esse fatalismo intrasistêmico,carrega a cruz e sofre com Jesus e como Jesus. Sofrer assim é digno. Morrer assim é valor.3) Carregar a cruz como Jesus a carregou significa, portanto, solidarizar-se com aqueles que são crucificadosneste mundo: os que sofrem violência são empobrecidos, desumanizados, ofendidos em seus direitos.Defendê-los, atacar as práticas em nome das quais são feitas não-homens, assumir a causa de sualibertação, sofrer por causa disso: eis o que é carregar a cruz. A cru de Jesus e sua morte desteengajamento pelos deserdados deste mundo.4) Tal sofrimento e morte por causa dos outros cruficificados implicam suportar a inversão dos valores que osistema faz, contra o qual se empenha. O sistema diz: estes que assumem a causa dos pequenos e semdefesasão subersivos, traidores, inimigos dos homens, [amaldiçoados pela religião e abandonados porDeus] (“maldito o que morrer na cruz”). São aqueles que querem revolucionar a ordem! Entretanto, o sofredor e o mártir se opõem ao sistema e denunciam, seus valores e práticas porque constituem ordem nadesordem. Aquilo que o sistema chama de justo, de fraterno, de bom, na realidade é injusto, discricionárioe mau. O mártir desmascara o sistema. Por isso sofre a violência dele. Sofre por causa de uma justiçamaior, por causa de outra ordem (“Se a vossa justiça não for maior do que aquela dos fariseus...”). Sofre sem odiar, suporta a cruz sem fugir dela. Carrega-a em amor da verdade e dos crucificados pelos quaisarriscou a segurança pessoal e a vida. Assim fez. Assim deverá fazer cada seguidor seu ao longo de toda ahistória. Sofre como [“amaldiçoado”], mas na verdade é abençoado; morre como [“abandonado”], mas naverdade é acolhido por [Deus]. Assim [Deus confunde] a sabedoria e a justiça deste mundo. 5) A cruz, portanto, é símbolo de rejeição e de violação do sagrado direito de [Deus] e do homem. É produtodo ódio. Empenhando-se na luta para abolir a cruz do mundo, a pessoa sofre si a cruz, imposta e infligida* Texto tirado de: Juan Luis Segundo. O homem de hoje diante de Jesus de Nazaré. Vol. II/1. São Paulo: Paulinas, 1985, pp. 3-16.Edição nº 03 – Janeiro/ fevereiro 2006 2Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura / Journal of Theology & Culturepelos que criaram a cruz. Aceita-a, não porque vê nela um valor, mas porque rompe a sua lógica deviolência pelo amor. Aceitar é ser maior que a cruz; viver assim é ser mais forte que a morte.6) Pregar a cruz pode significar um convite a um ato extremo de amor e de confiança e de total descentraçãode si mesmo. A vida possui sua face dramática: há os derrotados por uma causa justa, os desesperançados,os condenados ao cárcere perpétuo, os entregues à morte fatal. Todos, de alguma forma, pendem da cruzquando não têm que carregá-la onerosamente. Muitas vezes temos que assistir ao drama humano,silenciosos e importantes, porque cada palavra de consolo poderia parecer tagarelice e cada gesto desolidariedade resignação inoperante. A garganta estrangula a palavra e a perplexidade seca as lágrimas emsua fonte. Especialmente quando a dor e a morte resultam da injustiça que dilacera o coração, ou quandoo drama é fatal, sem nenhuma saída possível. Ainda assim tem sentido, contra todo cinismo, resignação edesespero, falar da cruz. O drama não precisa necessariamente transformar-se em tragédia. Jesus Cristoque passou por tudo isto transfigurou a dor e a condenação à morte fazendo-as um ato de liberdade e deamor que se auto-entrega, [um acesso possível a Deus e] uma nova aproximação àqueles que orejeitavam: perdoou e se entregou confiante a um Maior. Perdão é a forma dolorida do amor. Entregaconfiante é a total descentração de si mesmo para Alguém que nos ultrapassa infinitamente, é arriscar-seao Mistério, como o portador último do Sentido do qual participamos mas que não criamos. Esta chance éoferecida à liberdade do homem: pode aproveitá-la e então sossega na confiança; pode perdê-la e entãosoçobra no desespero. Tanto o perdão quanto a confiança constituem as formas pelas quais não deixamosque o ódio e o desespero conservem a última palavra. É o gesto supremo da grandeza do homem.Quem morrer assim confiante e descentrado alcança o derradeiro sentido, como o revela a ressurreição,que é a plenitude de manifestação da Vida presente dentro da vida e da morte. O cristão só pode afirmarisso olhando para a Crucificado que agora é o Vivente.7) Morrer assim é viver. Dentro desta morte da cruz há uma vida que não pode ser tragada. Ela está ocultadentro da morte. Não vem depois da morte. Está dentro da vida de amor, de solidariedade e de coragemde suportar e de morrer. Com a morte ela se revela em sua potência e em sua glória.É isso que exprime São João quando diz que a elevação de Jesus na cruz é glorificação, que a “hora” étanto a hora da paixão quanto a hora da glorificação. Vigora, portanto, uma unidade entre paixão eressurreição, entre vida e morte. Viver e ser crucificado assim por causa da justiça e por causa de [Deus] éviver. Daí que a mensagem da paixão vem sempre junto com a mensagem da ressurreição. Os que morrem insurretos contra o sistema deste século e se recusaram a entrar “nos esquemas deste mundo” (Rm 12,2), eles são os ressurretos. A insurreição por causa de [Deus] e do outro é ressurreição. A mortepode parecer sem sentido. Entretanto, ela é que tem futuro e guarda o sentido da história.8) Pregar a cruz, hoje, é pregar o seguinte de Jesus. Não é dolorismo, nem magnificação do negativo. Éanúncio da positividade, do engajamento para tornar cada vez mais impossível que homens continuemcrucificando outros homens. Essa luta implica assumir a cruz e carregá-la com coragem e também sercrucificado com hombridade. Viver assim já é ressurreição, é viver a partir de uma vida que a cruz nãopode crucificar. A cruz só a revela ainda mais vitoriosa. Pregar a cruz significa: seguir Jesus é per-seguirseu caminho, pro-seguir sua causa e con-seguir sua vitória.9) [Deus] não ficou indiferente às vitimas e aos sofredores da história. Por amor e solidariedade (cf. Jô 3,16)se fez um pobre, um condenado, um crucificado e um matado. Assumiu uma realidade que contradiz,objetivamente, [a Deus], pois Ele não quer que homens empobreçam e crucifiquem outros homens. Estefato revela que a mediação privilegiada de [Deus] não é nem a glória nem a transparência do sentidohistórico mas o sofrimento real do oprimido. “Se Deus nos amou desta maneira, devemos também amarnos uns aos outros” (1Jo 4,11). Achegar-se a Deus é achegar-se aos oprimidos (Mt 25,46ss) e vice-versa. Edição nº 03 – Janeiro/ fevereiro 2006 3Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura / Journal of Theology & CultureDizer que [Deus] assumiu a cruz não deve significar uma magnificação da cruz nem sua eternização.Significa apenas o quanto [Deus] amou os sofredores. Ele sofre e morre junto.Por outro lado, [Deus] não fica também indiferente aos crimes. Numa palavra, ao peso negativo dahistória. Não deixa a chaga ficar aberta até à manifestação de sua justiça no fim do mundo. Ele intervém ejustifica em Jesus ressuscitado a todos os empobrecidos e crucificados da história. A ressurreição quermostrar o verdadeiro sentido e o futuro garantido da justiça e do amor e das lutas aparentementefracassadas pelo amor e pela justiça no processo histórico. Enfim, triunfarão. Será o reino da purabondade”1. 1O que é o texto que acabamos de ler? Sem dúvida um evangelho. Àquele que estranhar a falta deaspas na palavra evangelho, quer dizer, àquele que espontaneamente, em pleno século XX, se acredita obrigado a metaforizar o termo, dedicamos estas primeiras reflexões.Que dificuldade haveria, com efeito, em dar a esta versão ¾ parcial, certamente, por se referir somente à paixão e à ressurreição, mas não mais parcial, por exemplo, do que a carta aos Hebreus¾ um estatuto semelhante ao dos quatro evangelhos canônicos ou ao que Paulo chama “seu” evangelho?Uma dificuldade há e, certamente, relevante. O que acabamos de ler não pertence nem pertenceránunca à Bíblia, também chamada, e não sem razão, o “depósito da fé”.Com isso aludimos a um fato decisivo nesse processo por meio do qual Deus vai levando seupovo à verdade. À verdade sobre Deus e sobre o homem, já que as duas coisas nunca aparecemseparadas.A Escritura consigna esse longo processo educativo e, ao pô-lo por escrito, o deposita. E dizemos que esse depósito culmina com as testemunhas diretas de Jesus, em quem se concentra atotalidade da fé e do empenho humano.Mas temos que fazer duas perguntas importantes para avaliar o que vem depois e chega até nós.Tal como o citado texto de L. Boff, entre mil outros.A primeira: pára o processo quando se fecha o depósito? De maneira alguma. A própria Bíblia nos diz por que e como continua. Para nos certificarmos disso podemos acudir àquele evangelhoque, dentro do Novo Testamento, parece ter a maior consciência de criar, para novos ouvintes, umanova formulação da mensagem de Jesus: o João. Pois bem, este faz a Jesus dizer na véspera de suamorte ¾ e pouco importa que, do ponto de vista da “inspiração”, as palavras sejam de Jesus mesmo ou de seu evangelista ¾: “Muitas coisas ainda tenho para dizer-vos, mas não as podeis 1 Leonardo Boff, Paixão de Cristo, paixão do mundo (Ed. Vozes, Petrópolis 1977) pp. 158-162. Permitimo-nos pôr dentro do próprio texto as referências diretas de Boff aos escritos do Novo Testamento, e entre colchetes asexpressões explicitamente religiosas. Com isso pretendemos que o leitor perceba e grave a diferença de linguagens,para ulteriores reflexões e leituras.Edição nº 03 – Janeiro/ fevereiro 2006 4Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura / Journal of Theology & Culturecompreender agora (seria um peso morto para vós). Quando vier o Espírito da verdade, ele vosensinará toda a verdade” (Jo 16,12-13). A segunda: não poderá haver certo perigo em voltar rápida e mecanicamente demais à verdadedepositada, tendo o Espírito tantas coisas a nos dizer ainda e tanta verdade à qual nos conduzir?Sem dúvida. Prova-o o fato de que os evangelhos são quatro (e não um) e que já no NovoTestamento encontramos novas interpretações de Jesus, exigidas por novos contextos.O fato de que o “deposito” esteja fechado na significa, portanto, que termine também o processopelo qual Deus, mediante o Espírito de Cristo, nos conduz a toda verdade. Por que, então, se encerrao “depósito”, enquanto que a educação de Deus continua? Sem dúvida porque também no processoeducativo de cada homem num dado momento este deve sair do “depositado” nos conselhospaternos ou maternos. Não para negá-los, mas para confrontá-los com os desafios da vida. Ali,errando e corrigindo erros, o que foi depositado se tornará mais profundamente vida e possibilidadede criação. E adquirirá, dentro de novas circunstâncias, novas facetas.Nada indica a priori que as palavras de Jesus e, mais explicitamente, as de Paulo sobre o perigo do recurso à “letra morta” não se tornem a repetir, pelo menos em certa medida, com a letra dos evangelhos. Às vezes se recorre a eles não para se “inspirar” no contato com o “inspirado”, mas poruma segurança infantil. Como o jovem que recorre ao “depósito” dos conselhos paternos. Querdizer, esquivando-se do risco sadio de interpretar de novo a Jesus diante de problemáticas novas,perante as quais as respostas de Jesus, tomadas ao pé da letra, trairiam seu Espírito. A gente asestaria considerando como algo magicamente dotado de verdade. E isso acabaria levando a dar, emnome de Jesus, soluções desumanas (cf. GS n. 11).É, portanto, necessário tornar a escrever evangelhos. Isso não tira nada do maravilhoso e doexclusivo que teve o momento em que se escreveram os primeiros e canônicos. Hoje mesmo, tantosséculos depois, o Espírito de Jesus pode fazer que esses evangelhos sejam “espiritualmente” tãofiéis a Jesus como o foram os primeiros.2Temo-nos referido ao evangelho (sem aspas) da cruz, escrito por Leonardo Boff e que vem àfrente deste capítulo. O primeiro parágrafo indicou uma das principais razões que tivemos para isso.Quiséramos agora aduzir e explicar outra, não menos importante: o que temos lido no começo destaintrodução é, rigorosamente falando, um evangelho, não uma cristologia. Uma cristologia, como todo discurso de raciocínio, se desenvolve, se estuda, se ensina. Umevangelho se prega2. E justamente o título das linhas com que encabeçamos a introdução dizia: “pregar a cruz...hoje...”.2 Evidentemente não negamos que a obra de Boff a que nos referimos seja, ainda que parcialmente (enquanto se refere quase exclusivamente, e de acordo com o título dela, à Paixão), uma cristologia, e isso não desmerece seu valorEdição nº 03 – Janeiro/ fevereiro 2006 5Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura / Journal of Theology & CultureNão se trata só de um título discutível ou de uma etiqueta pretensiosa e infundada. A cristologia,enquanto parte da teologia, está inserida dentro do esforço global do intellectus fidei, quer dizer, do esforço por compreender a fé. Um evangelho, entretanto, se prega; isto quer dizer que a fé éoferecida; que se chama a outros a deixarem-se penetrar por um atrativo, a estrutura desse modo omundo do sentido e dos valores. Assim o faz Jesus, segundo Marcos, uma das fontes evangélicas:“...Jesus veio para a Galiléia. Pregava o Evangelho (= boa notícia) de Deus, dizendo: ‘Completaram-se os tempos, está próximo o reino de Deus, convertei-vos e crede no Evangelho’ (=boa notícia)” (Mc 1,14-15).De acordo com o que assinalávamos no tomo anterior, essa chamada à fé não é, nem pode ser em primeiro lugar, uma chamada a uma fé religiosa. Só pode chegar a ela passando necessariamente, pela comunicação de um mundo de sentido e de valores, a outro mundo afim, já existente de algumaforma no ouvinte. Esse mundo de significação e valores é o que Jesus designa com o título de“reino de Deus”. E sua afinidade com um mundo paralelo de valores, existente em alguns de seus ouvintes ¾ pelo menos de maneira incoativa, pois ainda precisam de conversão ¾ é, logicamente, o que lhe permite dizer que a proximidade desse “reino” constitui uma boa notícia. Só que não é por isso que deixa de ser notícia. A afinidade da expectativa não significa que se creia estar “próximo” o reino. É preciso converte-se a essa esperança, aceitar esse dado que supera as possibilidadesempíricas e que, por isso, chamamos transcendentes.No evangelho da cruz, de Boff, que encabeça este capítulo, acontece o mesmo: trata-se de boanotícia de que existe uma solidariedade total, eficaz e vitoriosa do Crucificado com todos oscruficicados do mundo. Não compete a este capítulo comprovar se essa pretendida boa notícia é fiel à anterior, citada do Evangelho de Marcos. O que interessa, isso sim, é comprovar que, atravésdeste evangelho, Jesus (presumivelmente) continua convidado aos que já se interessamapaixonadamente pelos crucificados do mundo a crerem na boa notícia de sua solidariedade comeles.Depois de comprovar que o projeto de Boff é, efetivamente, paralelo ao dos outros evangelhos,analisemos brevemente a linguagem em que se expressa. Veremos que é a que corresponde àcomunicação, entre pessoas, do mundo da significação ou do sentido.O leitor recordará aqui, sem dúvida, alguns resultados de nossa análise do volume anterior. Acomunicação eficaz de sentido entre os homens requer uma dose prioritária de linguagem icônica. Alinguagem, digital, muito mais relacionada com o raciocínio (ou com o mero mostrar coisas); tem sua função própria, mas a partir das premissas (em grande parte autovalidantes). Estas se adquirem pelo mecanismo de testemunhos, isto é, pelas imagens repetidas e familiares das satisfaçõespositivo no sentido e na medida em que possui muitos elementos que abrem a cristologia a um verdadeiro e atualfalar de Jesus de Nazaré. Sirva de exemplo o capítulo que citamos em sua totalidade sobre “como pregar hoje a cruzde Nosso Senhor Jesus Cristo”. Por outra parte, a “parcialidade” deste capítulo ¾ sua única temática é a cruz ¾ não é maior que a de outros escritos do Novo Testamento, como por exemplo a carta aos Hebreus, na qual somente sãoanalisadas as relações de Jesus com o culto definitivo.Edição nº 03 – Janeiro/ fevereiro 2006 6Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura / Journal of Theology & Cultureinerentes aos mundos de valores, que vemos refletidos no agir de outras pessoas e, de acordo comos quais, tratamos depois nós mesmos de estruturar também o nosso.Temos visto que a linguagem artística em geral, e a poética em particular (mistura de linguagemdigital e icônica com predomínio desta única), era a mais apropriada para veicular a imagem viva deuma satisfação vinculada a certa estrutura de valores. E que quando esta linguagem chega a suaspossibilidades máximas de expressão, ela se ajusta ao seguinte esquema (expresso em formaabstrata e, portanto, digital): dado este fato, que a limitação de toda existência humana me impede de verificar (por mim mesmo), ver-se-á no final que era melhor agir assim. Como se vê, há neste esquema (vazio) geral três elementos fundamentais: a premissa ontológica(a estruturação para o agir daquilo que vale na realidade, de seu dever-ser) refletida no “assim”; apremissa epistemológica (o dado transcendente chave para poder afirmar a possibilidade deimprimir esse dever-ser à resistência do real), refletida nesse “fato” que dou por concedido sempoder verificá-lo empiricamente por mim mesmo; e a autovalidação dessas premissas, que não é umcapricho, e sim uma aposta: o futuro, quer dizer, “o final” mostrará o acerto de trabalhar com taispremissas3. Por isso, como dizíamos, não é mais que o esquema vazio (digital) onde vai habitar o espírito deuma mensagem icônica. É evidente que a comunicação eficaz de um mundo de valores não se podefazer em forma linear e expositiva: ela se realiza mediante a repetição da imagem viva desse mesmomundo em atividade. O assim do agir de Jesus se converte dessa maneira ¾ neste evangelho como nos outros ¾ em um tema com variações, cada uma das quais mostra, por sua vez, uma faceta diferente da mesma estrutura de sentido: vale a pena solidarizar-se, como Jesus, com os crucificadosdo mundo até sofrer a mesma cruz, contanto que se ponha fim a essa crucificação de uns homenspor outros.Porém, para agir assim é preciso aceitar a boa notícia (que será boa, pelos menos em primeira instância, somente para aqueles que já estiverem preocupados por esse sofrimento desnecessárioinfligido ao homem); é necessário aceitar o dado transcendente de que a cruz de Jesus não é uma 3 Kasper parece chegar a um esquema praticamente idêntico ao escrever: “A pergunta pelo sentido por parte do homem não pode ser respondida somente a partir de dentro da história. Só é possível fazê-lo do ponto de vistaescatológico. Por isso o homem se move, em todas as realizações fundamentais de seu ser, implicitamente pelaquestão sobre a vida e o sentido definitivo, É claro que a resposta só é possível no final da história. O único queagora o homem pode fazer é escutar e perscrutar a história para ver se descobre sinais em que se vislumbre este finalou em que este final até aconteça antecipadamente. Sempre serão ambíguos estes sinais dentro da história; eles só seclareiam graças à antecipação, na fé, do fim da história e, vice-versa, esta antecipação terá que certificar-seconstantemente no contato com a história. Só neste horizonte amplo da questão podem se entender em plenitude ostestemunhos da Igreja primitiva e da tradição eclesiástica posterior” (op. cit., 169). Talvez pareça que a partir daí se deveria chegar ao mesmo esquema nosso. Por que Kasper não o faz? Porque na realidade não aceita o aspectoautovalidante das premissas ou, o que dá no mesmo, seu necessário caráter de aposta. Por isso, tende, em nossaopinião, a validá-las por um raciocínio com base empírica, convertendo assim as premissas em conclusões. Justamente esse caráter de autovalidação é o que torna necessária a fé, isto é, a comunhão arriscada nos valores deoutro, sem lhe pedir sinais do céu. Sintomaticamente, Kasper passa dessa formulação ao “sinal do céu”, quer dizer, àressurreição não aos “sinais dos tempos”, isto é, à atuação concreta de Jesus, como parece que deveríamos esperá-lodepois das afirmações citadas.Edição nº 03 – Janeiro/ fevereiro 2006 7Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura / Journal of Theology & Cultureporta fechada, mas aberta, por onde a vida, a justiça e o amor já começam a transformar a realidadehistórica. Somente pontuando os acontecimentos com essa premissa epistemológica poderemos irencontrando na história sinais dessa libertação. Somente assim, de fato, nos acostumaremos a pôrum ponto final, esse ponto que termina cada seqüência semelhante, não na morte do mártir, mas emcada progresso do amor, da solidariedade, da justiça, por provisório, débil e ameaçado que esseprogresso pareça ser.Por outra parte, tudo isso não teria sentido se, com nosso mundo de significação e valores, nãotivéssemos embarcado numa aposta (necessária a toda existência humana) segundo a qual se tornaválida, no final ¾ escatologicamente ¾, a escolha feita. Essa escatologia é aqui a ressurreição de Jesus que dês-venda o futuro e nos faz ver, já presente em meio a uma vida aparentementesubmetida à morte, o triunfo da vida e da causa do homem; triunfo que aparecerá, em toda suarealidade e extensão, no final da história.Não obtemos assim o que H. Küng chama depreciativamente uma “estranhamente inexata evinculante ‘verdade religiosa’, igual, mais ou menos, a ‘verdade poética’”4. Não há, com efeito, mais inexatidão aqui do que o espaço necessário para que cada um crie seu próprio modo de viver,dentro de suas próprias e irrepetíveis coordenadas, esse mundo de significado. Em outras palavras:graças a Deus, a mesma poesia e a mesma inexatidão que a dos evangelhos canônicos.Somente queríamos acrescentar duas observações a propósito da linguagem empregada por Boff.Ao transcrevermos seu evangelho da cruz, tomamos a liberdade de pôr cursivamente algumaspassagens em que o autor cita praticamente os evangelhos neotestamentários, entendendo estes emsentido lado, quer dizer, compreendendo entre eles as interpretações não-narrativas, como a de SãoPaulo. Por que muda de linguagem nessas passagens, a ponto de acrescentar referência a citaçõesbíblicas?Cremos que, do ponto de vista do desenvolvimento (icônico) de seu evangelho, tais passagens,introduzidas a partir de um contexto longínquo, somente conseguem interromper uma linha deexpressão própria, que prende e cativa. A hipótese que nos ocorre como mais verossímil paraexplicar a inserção dessas passagens ¾ e em relação com o que vimos no parágrafo anterior ¾ é que a falta de criatividade na tradução (poética) atual se preenche muitas vezes com o que,sobretudo para um teólogo, é a grande tentação do menor esforço: ater-se à letra bíblica. Daí queessas passagens, a nosso ver, só suscitam um interesse erudito no exegeta ou no teólogo, interessemuito diferente ¾ ainda que por costume não o percebemos ¾ do que suscita no homem comum o próprio desenvolvimento das idéias e imagens evangélicas em termos de hoje5. 4 Op. cit., 102. Cf. infra, nota 20, p. 50. 5 Não teria sentido, como é evidente, opor-se às citações bíblicas num escrito teológico. Tentamos apenas distinguir o uso literal da Bíblia num raciocínio de teologia do mesmo uso literal quando se trata de fazer passar uma mensagemsignificativa e de criar para isso uma linguagem nova, atual, preponderantemente icônica.Edição nº 03 – Janeiro/ fevereiro 2006 8Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura / Journal of Theology & CultureA segunda observação se refere às passagens ou palavras que, no mesmo evangelho aquiapresentado, temos assinalado com um colchete. Como o leitor poderá perceber, são as passagensque fazem uma referência explícita ao religioso e, em particular, a Deus. De saída, deve ficar claro que, como o estudamos no volume anterior, de nenhuma maneira nosopomos a priori ao emprego desse tipo de linguagem. Admitimos, isso sim, que é perigoso, pelomenos quando, como neste caso, não traz consigo um contexto suficientemente denso ou explícitopara poder eventualmente corrigir o que o leitor ou o ouvinte coloca sob o termo “Deus”.Está claro que os evangelhos canônicos expressam a boa notícia em termos religiosos. Mascaberia aqui fazer uma observação a esse respeito, especialmente relevante para nosso tempo. Serãoapenas notas sumárias e, por outro lado, estão longe de nos parecerem definitivas; em todo caso,não podemos passar por cima.O uso de uma terminologia religiosa num mundo total ou quase totalmente religioso não podesequer discutir-se. É inevitável. Além disso, os evangelhos têm nesse uso dois corretivosimportantes. O primeiro é que as palavras dessa linguagem, pelo menos em Israel, estavamcarregadas de um conteúdo específico. Não nos referimos somente ao decantamento do religiosooperado pela globalidade do Antigo Testamento. Além desta globalidade, tanto Jesus, quanto acomunidade cristã primitiva, privilegiaram nele, isto é, no Antigo Testamento, como teremosocasião de estudar melhor, certas tradições específicas, como a de Elias-Eliseu, o profetasemelhante a Moisés, o Servo sofredor do segundo Isaías, etc., com suas correspondentes imagensdo divino. Isso faz com que a palavra “Deus” soe nos evangelhos, se olharmos bem, de umamaneira muito mais precisa e profunda do que num texto atual, já que sua implantação na cultura“ocidental” lhe fez perder, em grande parte, a referência a tais tradições, pelo menos para o leitorcomum.O segundo corretivo é aquele que foi trazido particularmente por Jesus. Em meio ao politeísmodo Oriente de então, Jesus rejeita como decisivas as diferenças religiosas, em favor da decisoriedadede atitudes humanas mais fundamentais ainda. Os idólatras ninivitas tinham, segundo ele, umaconcepção mais acertada do divino do que os javistas ortodoxos do farisaísmo. Jesus tacharia ofarisaísmo de idolatria prática, quer dizer, em linguagem bíblica, de “adultério” (cf. Mt 12,39; 16,4e par.). O mesmo acontece provavelmente em várias outras ocasiões (cf. Mt 8,5-13 e par.; 25,31ss).Esta relativização das distinções introduzidas pela linguagem religiosa (cf. Gl 3,28; Rm 10,12; 1Cor12,13; Cl 3.11) parecem destinadas a mostrar o perigo especial da linguagem quando aplicada aosagrado e a necessidade que se segue de passar pelo critério de atitudes (mundos de significação)humanas para saber se se está falando da mesma coisa quando se empregam palavras idênticas.O que é que acontece hoje com essa linguagem? Que a unificação forçada, no Ocidente, de todosos nomes divinos num único substantivo, comum e próprio ao mesmo tempo, de “Deus”, acentuaainda mais a ambigüidade do seu conteúdo. Sirva como exemplo o fato de que filosofias queEdição nº 03 – Janeiro/ fevereiro 2006 9Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura / Journal of Theology & Cultureveiculam conceitos totalmente diferentes e mesmo opostos da divindade se valem da mesmapalavra. A mesma coisa se pode dizer da teologia e da piedade da tradição cristã e mesmo católica6. Um fenômeno novo vem complicar as coisas, neste ponto da linguagem religiosa: a aparição doateísmo no nível das massas e o mal-entendido de que um abismo separa esse ateísmo de tudo que éreligioso. Temos, pelo contrário, como já vimos, todas as razões para pensar que o que Jesus disse apropósito das diferenças “religiões” de sua época vale hoje também para a diferença entre ateísmo ereligião (cf. At 17,23; 1Jo 4,20).Por tudo o que foi dito, as passagens em que se fala explicitamente de Deus no Evangelho de L.Boff, mesmo tendo em conta o contexto religioso da cultura brasileira (ou, talvez, até por causadela), nos parecem, até certo ponto, um desafio não aceito. Em uma passagem Boff de “umMaior...”, “Alguém que nos ultrapassa infinitamente”. Cremos que por aí estaria a solução, assimcomo o falar de uma causa que vale mais que nossas vidas, ou outros termos semelhantes. É claroque não ignoramos que o contexto ¾ por breve que seja ¾ dessas páginas destrói, de certo modo, a ambigüidade assinalada, ao menos em boa parte.Interessa-nos a linguagem sobre Deus deste texto pela razão fundamental de que falávamos antese que, como dissemos, não tem nada a ver com uma recusa a priori da linguagem religiosa. Por todas as razões expostas, cremos que os homens devem comunicar entre si ampla, lenta eprofundamente seus respectivos mundos de sentido antes de começar a discutir se comungam ou não uma fé “religiosa”. Em outras palavras, somente sobre uma ponte solidamente estabelecida defé antropológica a questão religiosa sobre Jesus adquire relevância e precisão. Responder Encaminhar
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Humor




O Repensar Deus com a quebra dos paradigmas

Queirugando um pouco: um Deus para hoje! Essa frase de Andrés Torres Queiruga é o tema de um de seus livros, onde trabalha o repensar, o que o homem pensa a respeito de Deus. E repensar Deus é, sem dúvida, repensar toda uma ética humana, pois não há nada humano que não tenha por trás um sentido real ou mitológico que leva ao divino. O homem sempre acaba em Deus. Por isso que as mudanças de paradigmas são tão conflitantes no movimento evangélico hoje, pois repensar o movimento evangélico, esbarra no repensar Deus. É tirar Deus das caixinhas teológicas?!A relação homem e Deus, hoje cristã, não se aceita que seja mais uma relação idiota, infantilizante e com uma lógica mitológica.“É preciso reconhecer que pelo que diz respeito à relação de Deus com o mundo, produziu-se e ainda se está produzindo uma mudança radical, não só na mentalidade não cristã, como também dentro do cristianismo e de sua teologia…”[4].Essa mudança de pensamento hoje, vivida na prática para alguns, é libertadora da alma, todavia para outros é puro momento de esfriamento espiritual. Alguns preferem repetir movimentos idólatras a notar uma maneira mais sadia de encarar Deus. Não como um ídolo pagão, mas como um Deus relacional que ama o mundo de tal maneira que nos dá seu filho (Jo 3:16).Se essa relação homem/Deus é revisitada por um novo pensar, todos os paradigmas teológicos são revistos. Salvação, oração, dízimos e outros. Ou seja, o pensamento sobre Deus moldando a realidade e a realidade moldando o nosso pensamento sobre Deus.

Soli deo gloria

A Teologia Reformada. Não consegue responder os questionamentos do homem moderno.

Uma teologia que não consegue respoder aos questionamentos do homem moderno, deve ser descartada. Assim é a teologia reformada. O iluminismo demostrou que tal teologia era inviável e já no século XVIII. Foi o iluminismo que com muita eficácia, respondeu aos anseios do homem do seu tempo, vitimado pela opressão eclesiástica e não a teologia. Os enciclopedistas assumiram o papel que deveria ser da religião !“É difícil libertar os tolos das amarras que eles veneram”. Voltaire.“O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na tranformação da realidade se não for ajudado a tomar consciência da realidade e da sua própria capacidade para transformar. (…) Ninguém luta contra forças que não entende, cuja importâcia não meça, cuja formas e contorno não descirna; (…) Isso é verdade se se refere ás forças da natureza (…) isso também é assim nas forças sociais (…). A realidade não pode ser modificada senão quando o homem descobre que é modificável e que ele o pode fazer.” - Paulo Freire.Soli deo gloria

Predestinação como parte da historia da salvação. O tema sob outra perspectiva. Alem da maneira calvinista de ver o assunto.

Predestinação como parte da históriada salvaçãoResumo: O artigo procura trabalhar o conceito teológico da predestinação a partirde uma leitura histórico-salvífica. Para isso, faz uso do método de Oscar Cullmann.O objetivo é colocar o tema sob outra perspectiva, além daquela maneira calvinistade ver o assunto. Com esse intuito, descrevemos, de maneira panorâmica, o trajetosoteriológico dentro da história, começando com Israel, Jesus, Paulo e a Igreja, comocomunidade de predestinados dentro da história redentiva.Palavras-chave: Predestinação, eleição, história da salvação, IgrejaAbstract: The article looks for to working with the theological concept of the predestinationfrom a historical salvation reading. E, for this makes use of the methodef Oscar Cullmann. The objective is to place the subject under another perspective,beyond that calvinist way to see the subject. With this intention, we describe, in panoramicway, the salvation passge inside of history starting with Israel, Jesus, Paul andthe Church, as community of predestination inside of redentiva history.Keywords: Predestination, Election, Salvation History, Church.IntroduçãoO interesse pelo tema é justificável por dois motivos. O primeiro é que o assuntosempre foi discutido dentro de uma leitura calvinista (principalmente no meioprotestante). Muito raro encontrar textos de autores com tradição protestante quelevantem o tema sem abordar a perspectiva calvinista.O segundo motivo é de método teológico. O método da história da salvação,expressão cunhada por Johann Albrecht Bengel (1687-1752), é usado para designara natureza da Bíblia como relato de Deus operando a salvação na história de umpovo: Israel e a Igreja. O método postula uma leitura bíblica a partir da obra redentorade Deus no decorrer da história.Teólogos como Gerhard von Rad, no Antigo Testamento, e Oscar Cullmann, noNovo Testamento, trabalharam sua teologia redentiva a partir da história da salvação.O que proponho é a aplicação da leitura histórico-revelacional de Deus com seudesdobramento na predestinação como ponto histórico na reconciliação divinohumana.Predestinação em perspectivas teológicasA predestinação como conceito teológico tem sua base em Agostinho e sua ênfasena graça de Deus, onde Agostinho entende que Deus concedeu sua graça aalguns e a outros não desde a eternidade. Por isso, para ele, o número dos eleitosTeólogo, pastor da Igreja Batista Memorial em Iporanga (SP) e professor de Filosofia no Ensino Público. Email:pralgoncalves@yahoo.com.br. Blog:Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano III, n. 22estava rigorosamente limitado. A divisão que Agostinho faz entre os eleitos, ouagraciados com a graça de Deus, e os não eleitos, já se mostra em uma “predestinaçãodupla”, algo que Calvino irá desenvolver mais tarde.João CalvinoCalvino trabalha com a predestinação dupla. Compreensão que desenvolveupara explicar a decisão de Deus em eleger quem seria salvo e quem estaria perdido.Para o teólogo de Genebra, Deus escolhe tanto os salvos como os condenados nãopor meio de sua presciência — saber de antemão os que iriam crer — mas porqueele assim o quis.Os escolhidos para a condenação não tem nenhuma chance de redenção, porque,para Calvino, Deus veda o caminho dos réprobos para que eles não sejamsalvos. A escolha de Deus não depende de qualquer virtude humana, ela estáfundamentada na soberania de Deus, por esse motivo a morte-ressurreição de JesusCristo tem um caráter limitado — somente para assegurar a salvação dos eleitos.A definição de predestinação para o teólogo é a seguinte: “Chamamos predestinaçãoao eterno decreto de Deus pelo qual ele determinou consigo mesmo aquiloque ele quis que ocorresse a cada ser humano. A vida eterna é preordenada paraalguns e a perdição eterna para outros, falando deles como predestinados para avida ou para a morte”.É uma perspectiva fatalista para alguns e triunfalista para outros. A predestinaçãoproposta por ele se dá no aspecto sempre individual e nunca coletivo.A salvação não é pelas obras (até porque isso contrairia um princípio da teologiareformada), e também não é pela presciência divina. Calvino conclui que a predestinaçãoé algo fechado no próprio Deus, não é uma dispensação amorosa, masuma determinação.A causa e fundamento da eleição não podem ser as obras humanas, nem mesmoo preconhecimento ou a presciência que Deus poderia ter. Qual é, então, a base daeleição? A única causa que pode ser alegada é, simplesmente, a soberana vontadede Deus.Do mesmo modo que Deus elege uns para a salvação, também elege outros paraa perdição. E isso independe de conduta, liberdade moral, é algo estritamente ligadoà soberana vontade de Deus. E por que Deus elegeria pessoas para a perdição?Porque, para Calvino,àqueles que Deus despreza ele reprova, e faz isso não por outra razão senão porque ele querexcluí-los da herança que Deus predestinou aos que escolheu por seus filhos. Qual é a causado decreto da reprovação de Deus? É o soberano e bom prazer de Deus. Nenhuma outra causapode ser aduzida senão à sua soberana vontade. Quando, portanto, alguém perguntar por queDeus fez assim, devemos responder: porque ele quis.Não faltaram críticas a essa postura de ver a condição humana sendo sorteada.Peter Barth, por exemplo, compreende que essa concepção autoritária de ver a salvaçãoé fruto de experiências que Calvino teve com cidadãos de Genebra. É ondeele procura separar os salvos dos perdidos. A história registra que João CalvinoKelly, J. N. D. Doutrinas centrais da fé cristã. p. 279.Sobrinho, João Falcão. A predestinação conforme a Bíblia. p. 9.KLOOSTER, Fred H. A doutrina da predestinação em Calvino. p. 22.Id., ibid. p. 23.Id. p. 38.Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano III, n. 22governou a cidade de Genebra de 1541 até 1560 e submeteu a população a umgoverno que mesclava política e religião. Havia uma série de regras imposta porCalvino.O que deve chamar a nossa atenção é que na Genebra de Calvino o trabalhointenso e constante, recompensado pela prosperidade econômica, era interpretadopelos seus seguidores como um sinal da salvação dos predestinados. Na verdadea predestinação conforme a vontade divina legitimava a divisão de classes entrepobres e ricos, e uma vez predestinados assim era preciso aceitar e viver de acordocom as possibilidades.Mas como saber que se está entre os eleitos de Deus? Existem alguns critériospara reconhecer essa eleição? O calvinista fica sempre indagando se ele está ounão entre os eleitos. De que maneira pode ter certeza dessa eleição? É claro que haviacritérios espirituais para Calvino. O principal deles era a relação interior do serhumano com Deus no ato de fé. O indivíduo alcançava certa certeza ao reproduzirem sua existência as marcas da eleição: vida moral e bênçãos econômicas. Emoutras palavras: o calvinista procurava transformar-se num bom cidadão burguês.Acreditava que só dessa maneira podia ostentar as marcas da predestinação.É impressionante o pouco que Calvino tem a dizer a respeito do amor de Deus.A glória divina substitui o amor divino. Só fala nesse amor em relação aos eleitos.Nega a universalidade do amor de Deus e faz com que a negação demoníaca e aruptura do mundo adquiram certa forma de eternidade. É o que se vê em sua doutrinada predestinação dupla. Essa doutrina, portanto, contradiz o amor divino quetudo sustenta.Karl BarthA perspectiva de Barth é interessante. Enquanto Calvino parte de Deus, Barthparte de Cristo e somente dele. A cristologia de Barth coloca o centro da morteressurreiçãode Jesus Cristo como ponto fundamental da eleição-predestinação.O seu conceito graça/eleição está intimamente ligado com a obra de Cristo. É,portanto, em Cristo que ocorre a eleição e a “rejeição” — uma resposta humana auma proposta divina. A predestinação é uma demonstração da graça de Deus e seufundamento. Não há, para Barth, uma escolha deliberada e aleatória da parte deDeus, mas uma graça sendo estendida a todos e em todos os lugares.É a acolhida de Deus para com todos dentro do tempo e para a eternidade.10Com o seu método de teologia dialética, Barth trabalha Deus/Ser humano, tempo/eternidade, Deus/mundo, na tentativa de demonstrar as disparidades entre Deus eo mundo e sua imanência e transcendência com relação ao mundo. Um Deus quenão é confundido com o mundo, porque o supera, mas não é ausente do mundo,porque é um mundo amado por ele e por isso é sua aliança, sua reconciliação esua redenção proposta em Cristo. E é por meio dele, Cristo, que Deus encontra omundo e esse encontro é mediado e é possível apenas pela sua graça:[a graça] em primeiro lugar ela sublinha o fato muito simples, mas que nunca foi nem será suficientementeconsiderado: de que a graça é graça de Deus, ato seu, obra sua, vontade sua e reinoseu. Isso também significa, em todos os casos, que ela não só é uma determinação, mas umapredeterminação, predestinação da nossa existência humana; que perante ela estamos lidandoContrim, Gilberto. História global: Brasil e geral. pp. 160-161.Tillich, Paul. História do pensamento cristão. pp. 265-266.Id., ibid. p. 266.10 Barth, Karl. Dádiva e louvor. p. 238.Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano III, n. 22apenas com uma instância a deparar-se conosco, mas com uma instância superior a nós, de umasuperioridade fundamental e qualitativa. Quando nós decidimos perante ela, então sempre jáestá decidido sobre nós mesmos, portanto antes de tomarmos conhecimento dela ou de nem sequernecessitarmos dela, independentemente (e entenda-se bem, independentemente no próprioDeus) da concretização e de toda a formação pecaminosa ou justa de nossa existência.11A demonstração definitiva da graça de Deus é dada por Cristo, porque ele abre ocoração de Deus, aceitando-nos como filhos dentro do tempo e para a eternidade. Apredestinação é a graça de Deus sendo apresentada como uma consumação da reconciliaçãoem Cristo, por isso não pode haver nada antes dele, mas sim depois dele.Barth não coloca a predestinação no âmbito da soberania de Deus, mas na suagraça. Ele mesmo diz quea doutrina da predestinação é doutrina bíblica. Mas ela perde a fundamentação bíblica e o seudireito dentro da Igreja no momento em que vira uma tese independente, quer sobre a soberaniae imutabilidade de Deus, quer sobre o sentido e o teor do plano mundial divino, quer sobre anatureza e o destino de cada indivíduo.12Para o teólogo da Basileia, a predestinação, por mais que faça parte dela a presciênciadivina, não pode estar desvinculada da cristologia, uma vez que é Cristo aúltima palavra de Deus. Por isso a predestinação não pode dar-se antes da obra deCristo.Barth acusa Calvino e Lutero de sofrer influência do determinismo. Ele alega queisso trouxe consequências funestas para a compreensão da predestinação comoobra da graça de Deus, e faz um apelo para não segui-los neste ponto.13Predestinação e história da salvaçãoA tentativa aqui será de fazer uma leitura da salvação com seus eventos históricose colocar a questão da predestinação dentro desse contexto. E para isso seráinevitável passar pelos grandes temas da história salvífica, começando com Israel,seu centro em Jesus Cristo, culminando na Igreja como comunidade de gentios ejudeus tendo consciência (principalmente os gentios, uma vez que Israel é naçãoescolhida) de sua condição de pertencentes, e aí predestinados, na história da salvação.Oscar Cullmann e a história da salvaçãoCullmann trabalha com os conceitos história e salvação. No seu celebre livroCristo e o tempo, seu objetivo é marcar a essência do tempo na concepção bíblica,mais precisamente na concepção neotestamentária. Parte em busca do elementocentral da mensagem cristã e a solução é formulada desta forma: Deus se revelanuma história da salvação.O teólogo de Strasbourg mergulha em todo o corpo neotestamentário utilizandoum método histórico-filológico, partindo do ponto de que o Novo Testamento é umtexto religioso, nascido numa comunidade de fé, e, portanto, contém a mensagemdo cristianismo primitivo. Ainda que a palavra “história” seja estranha ao Novo Testamento,Cullmann situa fatos salvíficos num contexto temporal — e esta é a maiorcontribuição dele.1411 Id., ibid. pp. 239-240.12 Id. pp. 237-238.13 Id. p. 242.14 Gibellini, Rosino. A teologia do século XX. p. 256.Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano III, n. 22Para Cullmann, “os fatos salvíficos são kairói, tempos propícios escolhidos porDeus para sua ação em favor do ser humano, e seu entrelaçamento constitui umalinha temporal ascendente, que vai da criação à parusia e constitui uma história dasalvação”.15 O centro da história salvífica é Cristo: “Nele está centrada e recapituladatoda a obra soteriológica”.16O que é história da salvação? O conceito revelação, para Cullmann, não é dissociadode história. Para ele, os dois conceitos são inseparáveis. Portanto toda ahistória da salvação faz parte da essência da revelação.História da salvação nada mais é que os eventos sucessivos da parte de Deusna sua obra reconciliatória. Para constatar essa leitura soteriológica do Novo Testamento,Cullmann faz uso do método histórico-soteriológico. Com tal método eleparte da revelação cristã e dos aspectos histórico e soteriológico para construir umalinha do tempo ascendente desde Israel, passando por Cristo como seu centro echegando à Igreja como pertencente à história da salvação.17Cullmann quer conceber a mentalidade da comunidade de fé com respeito àhistória da salvação. E ele sabe que os primeiros cristãos só foram desenvolver umacompreensão da salvação proporcionada por Deus como história depois do eventoCristo. É por isso que, para o teólogo, Cristo, no entender da comunidade de fé, fazuma divisão na história. Para os primeiros cristãos, o que possibilitou esse entendimentofoi a morte/ressurreição de Jesus Cristo como ponto culminante da história.Para os primeiros cristãos, após a morte de Jesus, o coroamento daquela ação é o fato grandiosoda ressurreição de Cristo. Nenhum outro momento da história, quer seja no passado, quer nofuturo, reveste-se de uma importância tão essencial para os seres humanos de boa fé do que JesusCristo, o Primogênito, estar corporalmente ressuscitado dentre os mortos [...]. A cruz e a ressurreiçãode Cristo que formam o centro de toda a história, dando-lhe seu sentido.18O que precisa ficar evidente com o uso do método histórico-salvífico de Cullmanné a centralidade de Cristo na história humana como recurso divino no processosoteriológico.É imprescindível que fique claro que, para Cullmann, todo o tempo que precedea criação é considerado como uma preparação para a redenção operada por JesusCristo. Nele Deus já elegeu os seus (Ef 1,4); nele o Logos, que, mais tarde, se fariacarne, já está junto a ele (Jo 1,1ss); nele, de maneira plena, todo o mistério divinoda salvação, da qual Jesus Cristo é o órgão, já está, em todos os seus detalhes sobreo destino dos gentios, oculto no desígnio de Deus (Ef 3,9).19A cristologia é a ponte da construção de todos os tempos para ele. Cristo não é umtempo novo que é criado, mas uma nova divisão do tempo.20 Sua reflexão começa ater sentido quando, em se tratando da predestinação como ponto soteriológico (principalmentepara os gentios), traça um funil de eventos salvíficos na história, o que elechama de redução progressiva ou princípio da substituição. Para tanto, “o Criador deixadesenvolver no tempo uma série de eventos que suprimem a maldição do pecado eda morte, reconciliando o ser humano consigo”.21 É a partir daqui que ele trabalha coma eleição de Israel, uma minoria, para a redenção da maioria.15 Id., ibid.16 Mondin, Battista. Os grandes teólogos do século XX. p. 142.17 Id., ibid. pp. 148-149.18 Cullmann, Oscar. Cristo e o tempo. pp. 125-126.19 Id., ibid. p. 131.20 Id. p. 132.21 Id. p. 157.Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano III, n. 22A história de um só povo que determinará a salvação de todos os seres humanos. No seio dahumanidade pecadora Deus escolheu uma comunidade, o povo de Israel, para a salvação domundo. A história da salvação continua a desenvolver-se seguindo o mesmo princípio da eleiçãoe da substituição. Assim, é reproduzida uma redenção progressiva. A partir do momento emque o povo de Israel, em sua totalidade, não preenche a missão que lhe é atribuída, surge um“remanescente” que substitui o povo [...]. Esse remanescente diminui ainda e se reduz a um sóser humano, o único que pode encarregar-se do papel designado ao povo de Israel: no Dêutero-Isaías, este se torna o “Servo de Iahvé”, cujo sofrimento é vicário; em Daniel, é o “Filho doHomem”, que representa o “povo dos santos” (Dn 7,13ss).Esse ser único entra na história na pessoa de Jesus de Nazaré, que preenche, por sua vez, a missãode Servo sofredor de Iahvé e aquela de Filho do Homem, de que fala Daniel, e que, por suamorte substitutiva, cumpre a obra para a qual Deus tinha eleito Israel. Assim, até Jesus Cristo, ahistória da salvação passa, como temos mostrado, por uma redução progressiva: a humanidade— o povo de Israel — o remanescente de Israel — o Único, o Cristo. Até aí a pluralidade tende àunidade, a Jesus Cristo, que, enquanto o Messias de Israel, torna-se o Salvador da humanidade,de toda a criação. A história da salvação tem, a partir de agora, atingido seu centro.22Sendo assim, podemos, agora, convergir o método de Cullmann com a compreensãode que a predestinação faz parte da história da salvação e, de fato, é umaobra apenas salvífica e não meramente biológica e selecionista.Como Cullmann parte da minoria (Israel) para a maioria (humanidade), com oevento Cristo faz com que a comunidade seja a culminação do processo históricosalvífico.A partir do ponto central, marcado pela ressurreição de Cristo, o desenvolvimento posteriorse efetua não mais passando da pluralidade para a unidade, mas, inversamente, em sentidoprogressivo, da unidade à pluralidade, de tal maneira que essa pluralidade deve representar oÚnico. Por conseguinte, o caminho segue, a partir de agora, do Cristo aos que creem nele, que sereconhecem salvos pela fé em sua morte vicária, a qual ele substitui. Isto conduz aos apóstolos, àIgreja, que é o corpo do Único e que deve, de agora em diante, cumprir pela humanidade a missãooutrora confiada ao “remanescente”, ao “povo santo”. Isso se prolonga até a humanidade serresgatada para o seio do Reino de Deus e à criação, também, dos novos céus e da nova terra.Assim, a história da salvação, em sua totalidade, compreende dois movimentos: a passagem dapluralidade ao Único, que é a antiga Aliança, e a passagem do Único à pluralidade, que é a novaAliança. No centro se coloca o ato expiatório da morte de Cristo e sua ressurreição. Essa constataçãocorrobora a asserção de que são esses fatos o ponto central. O traço comum aos dois movimentosé seu cumprimento seguir os princípios da eleição e da substituição. Esses princípiostambém são decisivos para a presente fase de desenvolvimento que procede do centro. A Igrejano mundo, representando o corpo de Cristo, tem, no pensamento dos autores do Novo Testamento,um papel central na libertação de toda a humanidade, portanto de toda a criação.23Ele trata a Igreja como uma parcela importante dentro da história da salvação.Para a comunidade primitiva, a história da salvação não é uma simples teoria.Os primeiros cristãos conscientizaram-se de ser realmente os instrumentos de umahistória divina particular. Esse sentimento se explica por sua fé na história da salvação,no seio da qual o tempo presente, no qual a Igreja de Cristo vive, reveste-se deuma importância preeminente.24O que percebemos é que Cullmann não trata a predestinação como divisor depovos (pelo menos é nesse sentido que queremos trabalhar o método histórico-soteriológico),mas não exclui, em nenhum momento, o caráter coletivo da predestinaçãono sentido de que nada está decidido em relação às pessoas quanto à suasalvação.22 Id. p. 158.23 Id. pp. 158-160.24 Id. p. 187.Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano III, n. 22A condição de predestinado é uma garantia para todos, mas essa manifestaçãose mostra de maneira clara e satisfatória na Igreja por meio dos elementos que compõema comunidade — batismo e ceia.Para formalizar, e justificar, o uso do método histórico-soteriológico de Cullmannna discussão sobre predestinação, é necessário construir algumas bases. A primeiradelas é de que o método da história da salvação nos permite dar um sentido bíblicoaos personagens da história salvífica, ou seja, nos coloca em contato com uma leiturabíblica e não filosófica do texto. O método nos dá a possibilidade de perceberque é possível olhar o tema sob outro ângulo, o da história — aquela em que Deusentra em contato com as pessoas através de eventos históricos a fim de revelar-se.Com isso não ficamos preocupados com o supremo desígnio de Deus antes dafundação do mundo e com o que ele determinou sobre cada indivíduo, até porquesó podemos falar nessa soberana vontade por meio da história, porque é só pormeio dela que há possibilidade de afirmar que Deus está no controle, mas devidoao suceder dos fatos dentro da história. Contudo em nenhum momento isso é motivode especulação, porque, sendo Deus soberano — e essa é uma característica dasua natureza — ele se mostra na história e essa é a maneira de conhecê-lo. Portantoo amor de Deus pela humanidade, conforme os autores sagrados, não são preteridospela sua soberania. Uma segunda base que levantamos a partir do método ésua centralidade em Cristo.Não há, nem pode haver, antes dele decisão soteriológica alguma, até mesmoincluindo aí o conhecimento prévio de Deus. Só poderá haver algo nesse sentidosomente depois dele e de sua morte/ressurreição, porque ele é o centro da revelaçãoe a culminação da história salvífica. É partindo desse pressuposto que queremossituar a predestinação como base eletiva para os gentios, especificamente,uma vez que os judeus foram eleitos por Deus. É a partir daí que se faz todo umcaminho progressivo na história da salvação, para demonstrar que os gentios forampré-destinados para participarem da salvação, mas que isso só foi possível por meiode Cristo.O agir de Deus na históriaA eleição de IsraelComo parte da história da salvação, Israel é nação depositária da revelação e eleiçãopor parte de Deus. Houve uma revelação, e essa revelação foi dada a um povo nummomento específico e histórico. Por isso, de Israel temos uma revelação de amor eeleição. Essa consciência histórica do povo de Israel não foi desenvolvida por meio detextos, mas por meio de eventos históricos — como a libertação do Egito. Houve umaaliança e esta aliança é a base teológica de toda a sua existência. Israel não formulouuma história com Deus, como povo vivenciou uma história (Sl 136).A eleição de Israel nas páginas do Antigo Testamento é incontestável. A baseeletiva está, inevitavelmente, ligada com a aliança feita com Deus. São conceitosinterligados. “A concepção da eleição de Israel está intimamente ligada à noçãoda aliança, pela qual Deus, livremente, escolheu para si o seu próprio povo (Dt14,2).”25A eleição sempre foi um tema vivo para Israel, mas sua responsabilidade diantedela sempre foi motivo de reflexão. É o que vemos no Segundo-Isaías, o profeta que25 BORN, Van den (Org.). Dicionário enciclopédico da Bíblia. p. 44 0.Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano III, n. 22exegetas colocam no exílio babilônico. É somente com esse profeta que a naçãoisraelita é chamada a tomar uma posição diante do propósito de sua eleição. OSegundo-Isaías traz uma mensagem de que Israel ignorou o comissionamento divinopara com os outros povos (Is 49,1-9). Longe de querer chegar a uma conclusãosobre o que de fato é ou seria o “Servo sofredor” no texto, antes é preciso compreenderque no Segundo-Isaías trata-se da nação, ou do remanescente israelita, comodepositário dessa missão, principalmente nos cânticos do Servo.Partindo disso, o que nos parece é que “o Servo é eleito para ser aliança para ospovos e luz para as nações, para dar luz ao cego e liberdade ao preso”.26 Portanto, aeleição, a partir do Servo, ganha contornos comunicativos às outras nações. Porquea base ou os motivos da escolha de Israel não estão na nação propriamente, mas noseu propósito.27 É exatamente o propósito que Israel negligenciou.A questão é que a nação compreendeu o sentido da eleição divina, mas nãovivenciou sua vocação. Surge um sentimento de favoritismo e superioridade emrelação às outras nações, negligenciando sua vocação — “Israel não correspondeuplenamente à sua vocação. A grande palavra de chamamento do Dêutero-Isaías(49,6) foi negligenciada”.28A plenitude dos tempos: o aparecimento de JesusO Novo Testamento é fruto de uma experiência de fé que a comunidade tevecom Jesus de Nazaré. Como comunidade, cada uma, em diferentes textos neotestamentários(Paulo, os evangelhos, evangelho de João), interpretou o evento Cristode maneiras diferentes.O Novo Testamento é testemunho do aparecimento de Cristo na história. Paraos autores sagrados, o que importava era essa Boa-Nova de salvação que acabarade ser concretizada em Cristo. É a partir disso que a comunidade faz uma leituramessiânica do Antigo Testamento para comprovar uma continuidade histórica noprocesso revelacional soteriológico.Na leitura neotestamentária não resta dúvida que a comunidade, a partir deCristo, olha para trás para compreender os propósitos de Deus na história de Israele dos profetas. A história de Israel é iluminada pelo novo centro, isto é, Cristo, eseu sentido é revestido pela cristologia em relação à história da salvação.29 Esse entendimentosó foi possível pelo fato de o Povo de Deus interpretar e ver a histórialinearmente e não ciclicamente, como os gregos.O aparecimento de Cristo na história — e sua morte/ressurreição — faz com queautores como Paulo olhem a história salvífica pela perspectiva de Deus: “Vindo,porém, a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascidosob a lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos aadoção de filhos” (Gl 4,4-5). Porque o evento Cristo não pode ser meramente algoaleatório na história, com certeza Deus estava preparando esse acontecimento singular,mas em nenhum momento tal acontecimento deixa de ser dentro da história,na plenitude do tempo.A comunidade percebeu muito bem o andamento da história salvífica e suaculminação em Jesus Cristo. É isso que temos nos Atos dos Apóstolos. Estêvão faz26 McKenzie, John L. Dicionário bíblico. p. 271.27 Smith, Ralph L. Teologia do Antigo Testamento. p. 131.28 Ben-Chorin, Schalom. A eleição de Israel. p. 38.29 Cullmann, Oscar. Cristo e o tempo. p. 130.Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano III, n. 22uma retrospectiva em toda a história de Israel e completa dizendo que os profetasanunciaram a vinda do Justo (7,2-53). O mesmo ocorre no capítulo 13,16-49, ondeo discurso de Paulo, segundo o autor de Atos, é uma revista na história do povoeleito de Deus e o consequente aparecimento de Jesus Cristo como o cumprimentodas promessas feitas no Antigo Testamento.Com o aparecimento de Cristo na história, Israel se viu desafiado a tomar umadecisão, e na sua maioria rejeitaram o Messias, assim como já haviam negligenciadoa sua missão aos gentios (vv. 46-48), não compreendendo que Deus nuncadeixaria de fora da sua graça outros povos.Somente pelo aparecimento dele é que a humanidade deve tomar uma decisão a favorou contra a proposta divina de reconciliação e redenção (Rm 3,22-26; At 17,30).Paulo: Apóstolo dos GentiosPara Paulo, Apóstolo dos Gentios, denominação sua, há uma abertura para ospagãos/gentios que não aconteceria se o apóstolo não tivesse a clara convicção deque os gentios também faziam parte das promessas de Israel. Porque, pelo que percebemosno início dos Atos, a Igreja judaica não tinha nenhum interesse em pregara essa gente, cometendo a mesma negligência que Israel cometeu nos primórdios.Essa atitude era legitimada por considerar os gentios impuros e idolatras.Somente com Paulo os gentios são informados de que o Deus de Israel é infinitoem graça. Porque foi por meio de sua experiência no caminho de Damasco queele compreendeu o caminho da graça, quando ali recebeu a sua vocação (At 9,15;18,6; Rm 10,12 e 11,13; Gl 3,28). Ele, então, percebe que o Ressuscitado oferecea sua salvação a todos, judeus e gentios.A história é instrumento da atuação divina. E essa atuação tem como objetivo manifestaro amor de Deus na sua busca pelo ser humano, que de alguma maneira e emalgum momento deixou de lado o seu Criador. E é sempre Deus quem vai à procura doser humano. É ele quem pergunta “onde estás?” (Gn 3,9). Nesse processo Deus trabalhacom a limitação humana, o tempo e sua história. Em razão disso ele desce para atendere sarar a aflição de um povo (Ex 3,7-8); entra em diálogo com os seres humanos paraque o conheçam; limita seu poder e sua soberania em detrimento da finitude humana,porque quer ser conhecido pela sua graça e não pelo seu poderio.Uma comunidade de predestinados: a IgrejaCom Cristo, Paulo centraliza todo o processo salvífico. Embora surjam textoscomo desde a fundação do mundo, o fato é que o aparecimento de Cristo na históriafez com que os autores sagrados e a comunidade olhassem para trás e concluíssemque de fato Deus estava no controle. Mas isso não significaria nada se ele nãoestivesse atuando no tempo. A comunidade compreende que foi na ação históricade Deus que se deu a sua eleição.E essa eleição não determinou o seu curso nem suprimiu a história, mas dá àcomunidade o fundamento de sua experiência no tempo como algo prioritário paraDeus, quer dizer, sua eleição/predestinação, pois ela tem a sua origem na vontadesalvífica de Deus — “nos salvou e nos chamou com santa vocação; não segundo asnossas obras, mas conforme a sua própria determinação e graça que nos foi dadaem Cristo Jesus antes dos tempos eternos, e manifestada agora pelo aparecimentode nosso salvador Cristo Jesus” (2Tm 1,9-10).3030 MIRANDA, Mario de França. Libertados para a práxis da justiça. p. 52.Ciberteologia - Revista de Teologia & Cultura - Ano III, n. 22 10Mas é no tempo que ela se concretiza, porque foi agora que se manifestou a justiçade Deus, testemunhada pela lei e pelos profetas. É no agora que se recebe a reconciliaçãoatravés de Cristo.31 A história estava caminhando para um alvo divino, eneste alvo os gentios estavam incluídos. É aqui que entra o conceito de justificaçãoe reconciliação de Paulo. A justificação e a reconciliação seriam algo individual ouuniversal? Os dois conceitos estão extremamente ligados.Porque uma diz respeito à absolvição de todo o pecado; outra à restauração deum relacionamento com Deus.32 São dois conceitos teológicos que se dão no passado.Para o apóstolo, é uma dádiva de Deus em Cristo que foi comunicada a todosos seres humanos, até aos gentios. Porque o alvo não seria o indivíduo, mas umanova humanidade.33 Ela é uma obra terminada antes mesmo que o Evangelho sejapregado, porque se destina ao mundo.34O pecado não é mais barreira de divisão entre Deus e o ser humano, porque“Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo” (2Cor 5,19). A reconciliaçãoé um ato histórico, em Cristo, e coletivo, no mundo. Sendo assim, Deusnão quis reaver os pecados cometidos antes do aparecimento de Cristo na história,mas agora, com ele e sua obra, a humanidade é forçada a tomar uma decisão (At17,30).Uma vez que a reconciliação e a justificação são iniciativas de Deus no aspectocoletivo, seria a predestinação algo individual? Uma vez que a justificação e areconciliação são bênçãos proporcionadas por Deus em Cristo de caráter coletivoe histórico, a predestinação do mesmo modo é algo dado num momento históricocom um fim exclusivamente soteriológico.Não resta dúvida de que a salvação é uma proposta divina à humanidade, é osim de Deus em Cristo (2Cor 1,19-20). Uma vez sendo essa resposta afirmativa àsua proposta, todas as bênçãos espirituais são realizadas plenamente. E o propósitoda predestinação é concluído (Rm 8,29-30; Ef 1,4-5).Assim como a eleição no Antigo Testamento visou o povo de Israel (Dt 7,7; 14,2),a predestinação no Novo Testamento nunca é individual, mas coletiva — a Igreja,a comunidade dos santos. Não é por acaso que a Igreja primitiva tinha consciênciade constituir a raça eleita, um povo santo (1Pd 2,9).35ConclusãoVamos ser sempre alvo da graça de Deus. Israel foi alvo da graça de Deus durantea sua história. Já no Novo Testamento a graça de Deus se dá em um comportamentosalvífico de Deus — “salvar a todos” (1Tm 2,4). A universalidade do pecado e dadecadência humana encontra-se na universalidade do oferecimento da salvação(Rm 3,23-26) e sem reservas ou contas.É em nome dessa graça que o Deus Eterno entra em contato com o ser humano paracomunicar-lhe vida. E a maior expressão dessa comunicação se dá na Igreja, aquelaque tem a responsabilidade do “ministério da reconciliação” (2Cor 5,18-20).Dessa maneira, a predestinação não poderia ser algo puramente determinista eselecionista. Ela vem demonstrar