O feminino como expressão do Divino

A teologia tem proposto uma nova interpretação dos textos bíblicos que tratam da figura e do papel das mulheres e da sua interpretação ao longo da tradição cristã. Um exemplo é o texto de Gn.1.27:criou Deus o homem(Adam=humanidade) à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou. Deus criou macho e fêmea, homem e mulher, à sua imagem. Nele, fonte de tudo, útero eterno, originou-se o homem e a mulher. Dessa fonte vital eterna, jorrou a masculinidade e a feminilidade. Neste sentido, podemos dizer que nele está contido o masculino e o feminino, pois ele, como acabamos de afirmar, é a fonte de tudo.
Sendo assim, Deus tem em si a dimensão masculina e feminina. Ele é a geração de todas as coisas, a fonte de vida (dimensão feminina) e também a infinitude, a transcedência (dimensão masculina). Considerando homem e mulher à imagem e semelhança de Deus, também encontramos nele aspectos masculinos e femininos. Há no homem sensibilidade, ternura, cuidado, assim como há na mulher força e racionalidade tão próprias do varão. A diferença é que a dimensão feminina é mais aguçada na mulher; nela ele tem sua mais plena realização, assim como os aspectos masculinos no varão. São dimensões ontológicas, traços profundos de cada ser humano.
O Deus trino foi percebido na religião judaico-cristã como um ser masculino, pois essa imagem foi gerada numa sociedade em que havia o predomínio dos homens sobre as mulheres, e estas tinham um papel inferior e ficavam à margem da sociedade. Logo, nesse contexto, ergue-se e se sobrepõe a imagem de um Deus Pai, criador, juiz, redentor; de um Deus filho, libertador, profeta, mestre - todas figuras masculinas, fruto de uma sociedade patriarcal. A revelação se dá em um momento histórico e obedece à condição sociocultural na qual se estabelece.
O feminino, sendo considerado uma expressão do divino, pode nos comunicar uma face de Deus que muitas fica oculta e razão da imposição masculinizante e masculinizadora. Portanto, o feminino surge como veiculo de revelação de Deus; ele pode nos comunicar o divino e, de fato, nos comunica. Quando percebemos na escritura o Deus que se compadece, que consola, que não se esquece de seus filhos, o Deus que ensina, deparamos com o elemento feminino que comunica o Divino. Todo o elemento de ternura, aconchego, derradeiro refugio da salvação de Deus é apresentado na tradição na linguagem feminina.
Se em Deus se encontra o feminino e o masculino, podemos nos referir a ele como mãe. Podemos pensar na trindade com imagens femininas: mãe, filha, geradora de vida (Espírito Santo), consolo, aconchego. Também podemos percêbe-lo como pai, juiz, protetor, provedor-imagens masculinas, pois Deus é a origem das duas dimensões.

Deus não é apenas o que falamos, pensamos ou compreendemos acerca dele. Ele está muito além. Ele é! E, por mais que tentemos defini-lo, nossas palavras se esgotam diante da grandeza dele. Por isso a teologia não pode ter pretensão de esgotar sua fala sobre o mistério; tampouco a religião pode.

Espírito Santo
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Alessando Rocha

Soli deo Gloria